É começo
da manhã, chove lá fora uma garoa fina, molhando aos poucos a vidraça da minha
janela e embaçando o espelho da sala. Eu ascendi à lareira, queimei algumas
cartas antigas, escrita por mim mesma e que não chegaram a ser enviadas. Eu
tento me aquecer como posso, mas o frio ta invadindo, e não existiria cobertor
mais aconchegante do que o teu abraço agora. Eu sinto fome, mas não tenho
disposição de ir até a cozinha comer algo, me vejo cada vez mais pálida e sem
vontade de sorrir, como se eu não estivesse aqui, como se andar não fosse mais
possível, e todo barulho que ouço só penso que é você voltando daquela viagem
repentina no meio da noite.
E o teu
casaco ainda está pendurado na cadeira da escrivaninha, onde costumava escrever
teus livros de romance. Está tudo do jeito que você deixou, não mexi em nada,
teus discos de música clássica arrumados na estante, está tudo esperando por
você ainda. Foi eterno o que agente viveu. As corridas na praia sujando os pés
de areia, os banhos que agente dava no Pipo, nosso primeiro cãozinho dócil e
brincalhão, agente se divertiu muito naquele piquenique no domingo a tarde, foi
o primeiro domingo do ano, era verão e as formigas levarão nossa comida quase
toda, isso por que achávamos bonito a forma como elas trabalhavam sempre juntas
e de maneira organizada, e tudo se transformou em motivo de risada. Tuas
fotografias de formatura, teus carrinhos em miniatura, tudo teu, tudo meu, tudo
nosso, sempre será nosso meu amor, minha vida, minha luz.
E onde
você estiver, volta logo. A saudade ta aqui dizendo que não quer me deixar, mas
acredito na tua vinda, a qualquer hora, em qualquer estação, na sua motocicleta
de faróis baixos, com sua voz ativa e de timbre sereno, e no teu abraço eu vou
me jogar, e na tua calma eu vou descansar, como a lua no mar.
Milena M.
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